Quais as rachaduras você identifica em si e quais as flores elas vêm deixando em sua travessia. Na medida que deixam cair, o que as rachaduras não suportam conter?
Assim iniciou o encontro realizado entre equipes Pontos Diversos e Fundac e adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa na CASE Salvador, na última sexta-feira (05), com base na parábola “O pote Rachado” (autor desconhecido).
O encontro teve como objetivo viabilizar uma vivência aos participantes da metodologia Travessias e foi além. Em meio à identificação das rachaduras que nos colocam nesse mundo como seres imperfeitos e incompletos, entendemos o poder da pergunta, da experiência e da abertura para o novo, independente do ponto de partida.
O programa Nossa Travessia teve seu início na Fundac em junho de 2022 e, desde então, a proposta tem sido desenvolver sonhos para pensar no projeto de vida e carreira dxs jovens participantes.
Carolina Barreto, diretora vice-presidente da Pontos Diversos, fala: “Parece surreal falar de sonhos frente a uma realidade endurecida por experiências sociais excludentes e desumanizadoras? Com certeza, um grande desafio, mas sobremaneira ‘castelador’, como dizem os jovens quando consideram algo construtivo. Buscamos, nessa oportunidade, experimentar o quanto a ausência da projeção dos sonhos na nossa vida nos leva à ausência de nós na nossa própria existência e apesar de parecer um processo de autoajuda desconectado da realidade, não tem nada disso nesse projeto. Ele está carregado de crítica social, incentivo ao desenvolvimento da consciência política e do fortalecimento da identidade, pressupostos compreendidos como combustíveis para projetos e sujeitos políticos ‘conscientes’. Carolina acrescenta: “Perceber os obstáculos e vivê-los é um processo desafiador, principalmente frente aos níveis dramáticos de desigualdade social reais no nosso país, mas foi o despertar dos sonhos e a capacidade de projetá-los em companhia, reconhecendo as redes de apoio concretas, que permite que a Pontos Diversos possa apoiar juventudes a entrar no jogo social chutando portas em espaços antes negados, com a dignidade e reconhecimento de suas potencialidades. Seja o emprego formal ou o empreendedorismo, nessa Travessia, não pode faltar identidade, consciência e sonhos”. E finaliza: “O Nossa Travessia tem os sonhos e o amor como práticas e instrumentos políticos de transformação porque parafraseando EMICIDA, se ‘tudo que nós têm é nós’ o que nos resta é lançar mão dos instrumentos que não precisamos pagar e que não podem nos tirar. Nesse sentido, a metodologia Travessias cabe em qualquer lugar e é disruptiva de uma modelo que carece transformação”.
Dois pedaços de papel metro, cortados de forma retangular, algumas canetas coloridas e uma mesa com cadeiras foram suficientes para representar o que cada pessoa presente vê no mundo hoje, o que lhe atrapalha e o que ela sonha para o futuro. Somente em 2 horas de atividades, sonhos surgiram para sujeitos que não reconheciam sua identidade no início do encontro. Relatos emocionantes por parte da equipe da FUNDAC e a certeza de que os sonhos não são abstrações de uma realidade não existente, mas um instrumento poderoso de começar a fazer hoje o que se deseja que aconteça amanhã com os recursos que se tem agora deram o tom das atividades.
O próximo encontro está previsto para acontecer na Case CIA.