Todos se dizem sensíveis, alguns se sentem sensibilizados, outros sentidos e quase todos tocados. Mas o que nos toca e onde toca, para sentirmos tanto e o que tanto nos fazer sentir?
Às vezes, frente a alguns acontecimentos, parece que sentimos dores e emoções iguais a todos, o mundo nos afeta, vivemos afetos e somos afetados e afetuosos. Ao mesmo tempo, somos diversos, singulares e únicos. Nossas particularidades produzem nossas diferenças, e ao mesmo tempo na coincidência das semelhanças com alguns que surge a atração, as semelhanças de algumas coisas formam grupos de semelhantes no sentir, de admiradores singulares a fã-clube.
Somos, então, este todo-inteiro, não somos a soma das partes, somos uma construção em existência, um olho que olha para fora por uma lente, somos interior, subjetividade, acessível apenas por si e ninguém mais.
Mas se sou o que penso e o que penso sou, então, serei os infinitos encontros de tudo que me fez. E serei produtos reflexivos de mim, pensamentos que se pensam ou outros que se acomodam, serei corpo e alma em mistura do que posso imaginar. Nosso bem-estar está vinculado à objetiva matéria de cuidar, corpo em célula e nosso sentir no pensar, somos objetivamente o corpo que sente, faz-se e aprende, e a harmonia deste encontro chamamos saúde. Todo este complexo interior chamamos subjetividade.
A arte é o que mais toca nosso interior, nossa subjetividade.
A arte ultrapassa o limitado pensar utilitário do entreter ou encantar os sentidos no conforto estético. A arte é instrumento filosófico, lanças de afetos, vetores de sensibilidades, freios de desarranjos, beijos de felicidade.
A arte é a produtora maior da nossa subjetividade, elemento dialético, impacto de antíteses, fenômeno que nos faz pensar, invade nosso íntimo pelos sentidos, lugar onde somente cada um em si poderá estar.
A arte é avassaladora, arrasta você para rios de navegar, na própria produção de lágrimas e fazer do chorar um flutuar num mergulho de um respirar. Aflora nossa sensibilidade e nos traz a flor da pele, invade a alma e implode nosso pensar.
A função da arte é produzir sensibilidades e construir sentidos e sentimentos, nos percebermos humanos em limites e ilimitados na possibilidade do sonho. A arte puxa a todos para âncora profunda de si e arremessa todos na projeção de possibilidades, só ela nos imobiliza e faz voar.
Quem poderia ter tanta saúde sem sentir viver, quem poderia viver sem amar e odiar, quem poderia viver o belo sem saber o desagrado do feio, e quem pode dizer que o ama ou o que a beleza encanta toca a todos na mesma dança?
A arte não é modelo, é ferramenta de esculpir, alguns sentirão feios, outros tão belos de fazer rir, e nas diferenças das percepções quem sabe juntos um dia alcançaremos as essências do que seja e o que não seja em mim e é tanto para você?
Viva, seja o artista de si, sentindo.
”Abra o seu coração
Que eu quero passar
Andar de trem
Flores beijando o chão
Pedras a sonhar
Tudo em transe de amor”
Transe - Djavan
Evandro Calisto de Sousa Filho
Cientista Social da Pontos Diversos