Por que a diversidade e a inclusão são importantes para os negócios?
Para o universo do terceiro setor, os temas relativos à inclusão social e diversidade fazem parte do cotidiano e estão ligados diretamente à razão da existência das organizações, mas quando o assunto entra na pauta dos negócios com fins lucrativos parece que se refere a um tabu.
“... esse negócio de social é assunto para as ONG’s e caridade...”. Essa é uma frase comum nos diálogos com gestores e empreendedores de negócios com fins de lucro. Geralmente essa mesma frase vem associada ao reconhecimento solene da importância do trabalho social, mas como parte da crença de que inclusão social não é pauta para os “negócios”.
Quando iniciei minha carreira, percebi imediatamente que esse abismo não era coerente, já que, no fim do dia, todos os negócios surgem para atender a uma necessidade da sociedade e das relações em sociedade. Todos são geridos e operados por pessoas, sujeitos sociais que vivenciam no cotidiano a realidade e tudo que há nela. E mais: todos os negócios são atravessados diretamente por tudo o que ocorre na sociedade.
Vamos refletir um pouco a partir de exemplos:
1. Você que é CEO, gerente ou líder já precisou pensar o que fazer diante da paralisação de transporte público na sua cidade?
2. Já foi pauta em alguma reunião de planejamento questões relativas a ajustes necessários devido a uma nova regra de recolhimento de impostos sociais?
3. Já precisou pensar como a empresa pode atender às leis de cotas de inclusão da Pessoa com Deficiência ou à legislação da aprendizagem profissional?
4. Sua empresa já precisou redimensionar planejamento ou prazos porque aquele profissional se acidentou numa atividade de lazer?
5. Já foi necessário substituir um profissional e com isso redimensionar prazos e entregas porque houve um caso de afastamento por questões de saúde mental?
6. Já houve na sua empresa rumores de assédio sexual, moral ou casos em que a questão de raça foi colocada em pauta?
Esse texto poderia ser composto a partir daqui por outras tantas perguntas que revelam o quão as temáticas relativas à inclusão social e diversidade atravessam o cotidiano dos negócios e podem significar os maiores obstáculos ao alcance de melhores resultados.
Não precisa atuar no terceiro setor ou realizar uma ação de caridade para compreender que essa realidade se dá pelo simples fato de estarmos tratando dos mesmos sujeitos sociais e relações, seja falando sobre os negócios ou sobre a diversidade e a inclusão. A mesma pessoa que vive a diversidade sexual exerce uma determinada função no ambiente de trabalho ou transita no espaço público, bem como é a mesma pessoa que passa por privação material e encontra outras pessoas nos corredores da escola, do trabalho ou no trânsito. Mesmo que não estejam estampadas no rosto das pessoas, as temáticas sobre diversidade e inclusão estão em todo lugar. Ainda assim, você está questionando o que isso tem a ver com os negócios?
Sua produtividade no trabalho, na escola ou em qualquer lugar onde precise desenvolver algo é a mesma quando está enfrentando alguma questão, chamada de "pessoal"?
Chegamos a um ponto interessante dessa reflexão: o pessoal/individual está em geral relacionado ao político, coletivo e público e o fato de doer apenas em alguns não significa que todos, todas e todes não passem por algo que diga respeito à sua existência e que a afete com dor ou sofrimento. Uma mulher vítima de violência doméstica, por exemplo, vivencia ou não algo relacionado à cultura da violência impetrada nas relações entre homens e mulheres?
Ainda que tenhamos individualizado nossa existência, em um dado momento da experiência humana, a interação com outras pessoas nos fará reconhecer conveniências, similaridades, empatias e antipatias. Assim, podemos afirmar que nossa integralidade é plural, singular e universal ao mesmo tempo e por isso é tão fácil perceber que diversidade é ser humano.
Mesmo que as máquinas sejam preponderantes em seus negócios, a interface humana é inevitável e assim fechamos a equação da importância de que os negócios sejam parte do processo de contemplar a diversidade e a inclusão como pertencentes à sua existência. Do contrário, continuaremos a destruir tudo e todos por onde o que chamamos de desenvolvimento passar.
Em termos práticos, apesar de simples, ainda se faz necessária a mudança de cultura nas organizações para que negócios mais inclusivos e diversos se tornem realidade e para isso o terceiro setor pode ajudar.
A sustentabilidade dos negócios atualmente passa pela necessidade de conexões favoráveis ao desenvolvimento de novos modelos, que sobretudo contemplem esse novo olhar.
Vamos construir mais espaços onde o pressuposto da diversidade e inclusão social faça parte dos planejamentos estratégicos e práticas cotidianas e que a nova frase comum seja: “O desenvolvimento social é parte do propósito da existência do meu negócio”.
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Carolina Barreto Braga
Diretora vice-presidente da Pontos Diversos. Graduada em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal), especialista em Elaboração e Gestão de Projetos Sociais pelo Centro Universitário Jorge Amado e em Docência no Ensino Superior pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC). Já atuou com atendimento social, assistência, visitas domiciliares, planejamento, captação de recursos e gestão do terceiro setor, oficinas sociais, palestras, organização de eventos, gestão administrativa de projetos sociais, organização e mobilização comunitária, ações de geração de trabalho e renda, ações de educação ambiental. Foi docente de Serviço Social na Unijorge e na Fundação Visconde de Cairu em Metodologia Científica, orientadora de monografia, orientadora em elaboração de projeto de pesquisas, Formação Sócio-Histórica do Brasil, Sociologia Clássica, Teorização do Serviço Social e Diretora Vice-Presidente da Pontos Diversos – Associação para Promoção da Diversidade Sociocultural e Ambiental, membro titular do Núcleo de Gestão Estratégica do Fórum Baiano de Aprendizagem Profissional (FOBAP).