Mais do que nunca é chegado o momento de colocar à prova os discursos, insistir na manutenção do diálogo. Optar por dialogar com o diverso complementar não é ameaça aos segmentos, é posicionamento inclusivo!
Imposições de padrões socioculturais dominantes e das relações de classe e poder, atrocidades históricas perpetuadas, discriminações, racismo, múltiplas fobias, validação da violência das mais variadas formas, extermínio de vidas humanas e do ambiente: BASTA! Isso acontece por aqui todos os dias! Não dá mais pra viver desopilando o fígado e conviver com a naturalização do absurdo. Não basta manifestar indignação. Se propomos uma sociedade melhor do que a que está, que produza resultados outros do que está posto, vamos ter que começar a fazer diferente. Vamos ter que mudar muita coisa, vamos mudar mindset, vamos mudar o olhar, vamos mudar a escuta, individual e coletivamente, vamos mudar!
A pandemia trouxe à tona muitos fantasmas, muitas verdades veladas. Na privação do isolamento social, os mecanismos habituais não funcionam mais, as fugas, as negações, os discursos rasos e a reprodução dos padrões estão indigestos demais, a busca da manutenção de um suposto espaço seguro e da vida rotineira que já não existe mais, eu quero sobreviver em qual modelo de sociedade?
Tudo que está evidenciado, sem máscaras no meio da pandemia, é reflexo do que é naturalizado, marginalizado e permitido por séculos de impunidade, do modo que o capitalismo acumula, não apenas capital, mas principalmente as desigualdades. Olhar para fora é espelho de como reagimos aos nossos micro espaços de poder, a precária habilidade que temos em dialogar com o diverso completar, com necessidade de conquistar privilégios e reforçar as opressões para mantê-los, a sede de clamar por justiça e garantia de direitos, exigir o óbvio para a manutenção da vida.
Não funciona mais apenas defender nossos PONTOS de vista, eles já são ameaçados de qualquer forma se entramos apenas em disputa: Para alguém vencer, o outro precisa perder, um dia será a sua vez de encontrar alguém que pode mais que você. É possível contemplar o diverso, agregar, complementar, tudo bem se partirmos de antagônicos pontos de vista, mas se nos encontramos frente a frente com as nossas contradições, o que temos para trocar? A realidade desejada já existe, temos modelos viáveis, práticas possíveis, exemplos exitosos de sociedade promovendo bem-estar humano com desenvolvimento tecnológico, preservando o ambiente (Governos do Japão, Alemanha e Butão), de Empresas B que visam resultado financeiro ao mesmo tempo o bem-estar da sociedade e do planeta. Aqui e agora, podemos conviver com nossas dualidades de maneira saudável, mesmo sendo desafiador.
Se permita olhar no espelho com coragem para reconhecer a essência humana que habita no outro que por um instante você desejou guerrear, se defender e destruir. É necessário destruir o que gera, não as pessoas e o planeta. Vamos fazer isso juntos, há muitos caminhos para atingir objetivos semelhantes, alternativas eficazes para produzirmos outros resultados, só não há atalhos, vamos ter que mudar o mindset, o status quo e a maneira de reagir, curar as feridas, desenvolver softs skills, exercitar o olhar e a escuta inclusiva. O momento proporciona tudo que precisamos e sempre teremos o suficiente para começar, use-o para produzir mudanças desejáveis e não para reforçar os padrões dominantes. Percorrer um caminho que já passou pelo ódio, pela repulsa e pela apatia, garantir o respeito e direitos e, finalmente, chegar à valorização da diversidade é parte da solução e para que isto seja viável, a equidade pede paz.
Renata Martorelli
Administradora, Especialista em Gestão Estratégica
Diretora Presidente da Pontos Diversos