Nos últimos dias, tenho viajado por muitos lugares, os deslocamentos entre sala, cozinha, varanda e banheiro têm sido os de maior percurso. Outros movimentos, mais curtos e não menos constantes, também têm me levado a lugares distantes, muitos deles tive a oportunidade de acessar pela primeira vez graças a esta quarentena que estamos passando. As mãos estendidas alcançam as prateleiras da estante, os dedos digitam no teclado do computador ou deslizam sobre a tela do celular e os braços descansam sobre o muro da varanda, apoiando a cabeça e os olhos atentos que observam atentos as vidas do outro lado do quintal. Assim tem sido as minhas viagens. Confesso que nunca fui tão longe sem sair do mesmo lugar: minha casa.
Os dias de confinamento estão alcançando extremos da rotina de forma tão sutil que nem percebemos o quanto estamos nos ocupando diante de uma suposta desocupação. Quando consulto os aprendizes sobre o que estão fazendo nestes dias, por exemplo, a primeira resposta é sempre nada ou quase nada, no entanto, no decorrer do diálogo, noto que estão se movimentando sim. Filmes, séries, livros, lives, sono, preguiça, comida, mais comida, mais lives e mais sono, preguiça, livros, séries, sem contar a programação deliciosa proposta pela Pontos Diversos nos ambientes virtuais. A rotina mudou e os horários também, o que não quer dizer falta do que fazer, todavia o contexto sugere maturidade necessária e escolha de atividades produtivas para autogestão do próprio dia.
Quando na vida tivemos liberdade de escolher o que fazer durante o dia inteiro?! Talvez nas férias da escola, só que não. Nas férias, podemos sair, brincar na rua, ir à praia, ficar conversando na praça com os amigos. Quarentena é diferente, estamos em um espaço muito restrito. Como viajar tanto sem sair de casa? Isso não é novidade, minha gente, é o slogan do mundo virtual, a diferença é que antes podíamos escolher viajar por esse mundo dentre as outras opções de afazeres e agora parece que nos restam essas práticas somente. Todavia é quando, atentas(os), podemos notar a abundância presente na escassez. Olha os extremos sendo alcançados de novo. Haja destino para viajar.
Para que as viagens sejam produtivas, refletir, planejar e agir com coerência e bom senso consigo mesmo parece razoável, uma vez que o mundo digital nos dá a liberdade de ir bem longe e cada conteúdo vai nos levando a outro e outro e outro... É nesta hora que podemos retomar caminhos não tão dinâmicos e não menos produtivos. Fazer uma viagem por dentro de si, dos pensamentos, da respiração, dos sentimentos ou, dentro de casa, ir à cozinha, olhar pela janela do quarto, viajar os braços até alcançar aquele livro, jogo ou revista na estante, ou descansá-los sobre o muro enquanto apoiam a cabeça, essa que viaja para qualquer lugar sem passagem ou passaporte, só ir. Sendo assim, vá. Sempre que necessário, vá para longe das rotas que possam congestionar pensamentos ou deixá-los nocivos a todo o corpo. Este sim precisa seguir o caminho, de preferência, com alegria e produtividade, na companhia inseparável da paz, da alegria e da positividade necessárias para uma BOA VIAGEM!
Natureza França
Conselheira da Pontos Diversos