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24 maio 2021
Carolina Barreto

O "novo normal" e a saúde mental na comunidade escolar

Estamos no tempo chamado de “novo normal” e ao que se refere essa expressão?

É possível falar de normal no segundo país em má distribuição de renda e que acumula todas as mazelas que podem ser encontradas no contexto das relações sociais?

Então, o “antigo normal” se refere às antigas formas de trabalho e relações presenciais? Analise o seu cotidiano e imagine: o que poderia ser chamado de “normal”?

Provavelmente, a expressão “novo normal” surge frente à mudança abrupta de rotina de trabalho, que, assim como a anterior, não dava conta em absoluto das peculiaridades do que é ser humano, suas necessidades e diversidade.

É nesse interim que segue essa reflexão, mas é importante lembrar que a análise que segue sobre o “novo normal” na comunidade escolar não se relaciona às nuances exclusivamente novas, mas agravadas por um contexto inusitado, que, como antes, as estratégias das empresas que ofertam os serviços de educação não consideram a realidade, diversidade e minimamente a saúde mental da comunidade escolar. É importante registrar que estamos tratando aqui, sobretudo, do contexto da educação privada, já que o contexto de desigualdade social é agudo de tal forma que discutir a educação pública em tempos de pandemia requer constituir um mosaico de questões impossíveis de sintetizar por agora.

O contexto afeta todas as pessoas e é evidente que, quanto maior a vulnerabilização, o impacto social será mais dramático. Sem considerar discussões acerca das responsabilidades governamentais na realidade, o fato é que o cenário é muito ruim em diferentes aspectos da organização social com desdobramentos generalizados na vida das pessoas.

O medo da morte, a experiência da perda de pessoas queridas, a instabilidade econômica, nos negócios, no trabalho, na reprodução material das existências de milhares de pessoas são determinantes sociais extremamente importantes para a saúde e, aqui em análise, para a saúde mental. É nesse cenário que a educação privada vem oferecendo aquilo que está sendo considerado ano letivo às crianças, adolescentes e jovens de todo o país com uma dissociação esquizofrênica da realidade de alunos, famílias, professores, coordenadores e profissionais envolvidos na ação educativa de forma geral.

Com padrões metodológicos semelhantes ao da educação presencial, avaliações pautadas no mesmo diagnóstico da aprendizagem baseada em notas quantitativas, a maior parte das escolas privadas do país segue oferecendo o que tem sido denominado de educação formal. Adicionado ao contexto já mencionado que diz respeito à realidade de toda a população brasileira, o que as empresas de educação privada decidiram como “novo normal” para a comunidade escolar?
Redução de quadro dos colaboradores do apoio pedagógico, redução de salários dos professores e coordenadores com uma pseudorredução de carga horária, estruturas precárias para o desdobramento da ação educativa, junção de turmas, aumentando o número de alunos para um quantitativo menor de profissionais darem conta. Mas o pior de tudo isso: a transferência da metodologia presencial, exatamente com os mesmos pressupostos já questionados, dentro de um espaço on-line. Podemos dizer que isso se trata de gerenciamento de crise?

Qual redução de danos e resultado que se vê do lado dos profissionais?

De maneira geral e sem grande aprofundamento, os profissionais estão amedrontados com o fantasma do desemprego, estressados, adoecidos, desmotivados, cumprindo jornadas exaustivas de trabalho, em ambiente improvisado na própria casa, convivendo com novas demandas do trabalho em casa, com diagnósticos e receituário de medicação psiquiátrica... Isso tudo sem nem mencionar que as diferenças de todos esses impactos quando consideramos o aspecto de gênero e outras diversidades são ainda mais gritantes. Estes são os profissionais resilientes e que compreendem o momento de crise que as empresas estão passando e geram resultados satisfatórios aos acionistas e consumidores?

Quando a análise se refere aos(às) estudantes/consumidores(as), o que aparece não é muito melhor, alguém conhece uma família com o relato a seguir?

Estudantes desestimulados(as), com pouco interesse sobre as aulas on-line, sempre com câmeras desligadas, com participação negativa, isolados(as), com demonstrações claras de superutilização de telas, uso de conteúdos variados e nem sempre adequados à faixa etária, estresse percebido na saúde dos olhos, com diagnósticos e receituário psiquiátricos em muitos casos. Os familiares (pais e mães), em muitos casos, somente as mães, vivenciam entre todas as incertezas a preocupação sobre o bem-estar dos filhos, filhas e filhes em fase crucial para a formação da personalidade.

Recentemente foi registrado crescimento absurdo na venda de medicações psiquiátricas, sendo o Brasil líder no consumo de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos. Além disso, as queixas de mães de adolescentes e jovens sobre automutilação, aspiração suicida e crises de ansiedade cresceram vultuosamente nos consultórios médicos. E como se não bastasse, esses dados são diretamente proporcionais para os pais e mães.

Como está sendo essa experiência na sua família? Sentiu as mudanças de comportamento de seus filhos, filhas e filhes durante esse processo? Pode atribuir à escola algum apoio ao que está ocorrendo ou tem representado mais um fator de dificuldade?

Se a função da escola se limita à formação de futuras pessoas produtivas com base no sistema de conhecimentos formalizados pelos currículos escolares, essas instituições já estariam na contramão do alcance dessa finalidade. Entretanto, essa não é a única função da escola e a maioria dos usuários dos serviços privados de educação buscam uma formação integral, na qual o seu filho, filha ou filhe sejam integramente considerados.

Os seres humanos têm uma integralidade complexa, cujos componentes precisam ser considerados para o desenvolvimento da potencialidade humana em sua magnitude: infância, adolescência e juventude são fases cruciais para a definição do uso dessas potencialidades e a saúde mental e desenvolvimento emocional são um dos mais importantes aspectos dessa complexidade humana. Não existe novo normal para uma grande parte da comunidade escolar, o que estamos vivendo é a negligência de instituições de ensino, na mercantilização da formação de novos sujeitos sociais e administração de seus recursos.

Este é o cenário da educação formal praticado no modelo de sociedade atual que precisamos transformar e, para tanto, é importante que possamos esperançar, como disse Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido: “Pensar que a esperança sozinha transforma o mundo e atuar movido por tal ingenuidade é um modo excelente de tombar na desesperança, no pessimismo, no fatalismo. Mas prescindir da esperança na luta para melhorar o mundo, como se a luta se pudesse reduzir a atos calculados apenas, à pura cientificidade, é frívola ilusão. Prescindir da esperança que se funda também na verdade como qualidade ética da luta é negar a ela um dos seus suportes fundamentais. O essencial é que ela, enquanto necessidade ontológica, precisa de ancorar-se na prática. Enquanto necessidade ontológica a esperança precisa da prática para tornar-se concretude histórica. É por isso que não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera pura, que vira, assim, espera vã.”. É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!

Acreditando que todo ato deve ser político, pedagógico e amoroso, a Pontos Diversos idealizou a metodologia Travessias, desenvolvida também considerando a práxis da educação libertadora e tem por princípio a certeza de que a educação é um ato político, de construção do conhecimento e de criação de outra sociedade - mais ética, mais justa, mais humana, mais solidária, assim como o ser integral, já preconizado por Rudolf Steiner e em constante evolução, validado atualmente pela neurociência e por Danah Zohar e Ian Marshall que defendem a idéia de que além do QI (quociente intelectual) e do QE (quociente emocional), a inteligência humana também pode ser medida por meio da inteligência espiritual, o QS, quociente fundamental de todos. Não podemos considerar mais os antigos e novos “normais”, precisamos desconstruir e romper padrões e modelos que limitam a potencialidade humana e que em especial anulam nossa humanidade e destoem o nosso planeta.

Algumas pessoas podem se perguntar: por que mudar o normal, se todo mundo pensa e vive assim? Se fomos educados assim? Se o sistema e o mercado exigem assim? Se sobrevivemos assim até agora?

A que preço, a quem serve, em quais condições, até quando vamos suportar e apenas sobreviver? Individual e coletivamente precisamos vivenciar este processo de desconstrução, estamos em um momento propício, podemos integrar, valorizar nossa humanidade, ser quem somos de fato e a partir daí, evoluir e servir.

A Pontos Diversos, muitas pessoas e empresas já estão fazendo diferente, vamos juntos ressignificar e praticar outras possibilidades viáveis de educar e de viver em sociedade? Sejamos todos pontos diversos, que juntos e potentes podem trilhar essa travessia com e por pessoas mais saudáveis e conscientes em um mundo mais inclusivo e sustentável.

Acompanhe a campanha Virada da Diversidade e conheça o programa Nossa Travessia. Acesse www.pontosdiversos.org.

Carolina Barreto Braga
Diretora vice-presidente da Pontos Diversos. Graduada em Serviço Social pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal), especialista em Elaboração e Gestão de Projetos Sociais pelo Centro Universitário Jorge Amado e em Docência no Ensino Superior pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC). Já atuou com atendimento social, assistência, visitas domiciliares, planejamento, captação de recursos e gestão do terceiro setor, oficinas sociais, palestras, organização de eventos, gestão administrativa de projetos sociais, organização e mobilização comunitária, ações de geração de trabalho e renda, ações de educação ambiental. Foi docente de Serviço Social na Unijorge e na Fundação Visconde de Cairu em Metodologia Científica, orientadora de monografia, orientadora em elaboração de projeto de pesquisas, Formação Sócio-Histórica do Brasil, Sociologia Clássica, Teorização do Serviço Social e Diretora Vice-Presidente da Pontos Diversos – Associação para Promoção da Diversidade Sociocultural e Ambiental, membro titular do Núcleo de Gestão Estratégica do Fórum Baiano de Aprendizagem Profissional (FOBAP).

Palavras-chave

  • educação
  • diversidade
  • inclusão

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